quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poema

Vaso chinês  
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.


Alberto de Oliveira

Integrantes do grupo do Trabalho

Caique de Gouveia Nº03
Caroline de Toledo Nº 04
Christopher Henrique Nº 05
Denner Martins Nº 08
Italo de Goes Nº 15
Leonardo Amaral Nº 23
Marcus Alexander Nº 25
Maria Lúcia Fernandes Nº 26
Murilo Tolentino Nº 27


2ºA

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Romantismo (Pesquisa)

Romantismo é designação duma época determinada da História da Cultura - época mais ou menos longa, que, no caso português, abrange, conforme os pontos de vista: 1) de cerca de 1770, quer dizer, do Pré-Romantismo aos nossos dias, entendendo-se, pois, o Realismo, o Simbolismo, O Modernismo como desdobramentos ou fases evolutivas dum primeiro Romantismo, consequência duma progressiva desagregação espiritual que arrasta o cerebralismo puro e, em contraste, a pura expansão das forças irracionais; 2) de cerca de 1770 a 1865, data em que se produz a chamada Questão Coimbrã, primeira afirmação de rebelião da geração que fará o Realismo português; 3) excluído o Pré-Romantismo, - de 1825, data de publicação do poema Camões de Garrett, já de intenção romântica, a 1865. Alguns distinguem ainda entre Romantismo (no conceito mais restrito) e Ultra-Romantismo, que seria o período final, com o postiço e os excessos que caracterizam a dissolução da escola; mas não parece fácil delimitar cronologicamente os dois conceitos, e mais convirá considerar «romantismo» e «ultra-romantismo» duas facetas paralelas, simultâneas, dum movimento único. Na verdade, A Noite do Castelo (1836) de Castilho ou certos trechos da «tragédia de família» que é a história de Fr. Dinis nas Viagens (1846) de Garrett não são menos «ultra-românticos» que Soares de Passos ou João de Lemos; pelo contrário, os epígonos do Romantismo, como Bulhão Pato e Tomás Ribeiro (para já não falarmos num João de Deus) inclinam-se para uma estética de maior naturalidade. O que sucede é que os chefes de fila do Romantismo português (embora caindo por vezes nos defeitos que verberam) procuram manter-se sobranceiros ao folhetinesco, ao melodramático, à mecanização de processos expressionais - pechas que pejorativamente rotulam de «ultra-românticas». E esses perigos não cessam de ameaçar o Romantismo ao longo da sua duração, apesar de Garrett, em 1844, os julgar conjurados: o público estaria cansado de «estimulantes violentos»; «depois das saturnais da escola ultra-romântica» (eis a palavra que surge) desejaria ordem e moderação («Memória ao Conservatório»). Nota E). A palavra será retomada por Camilo Castelo Branco, que virá a pôr de lado as receitas de «terror grosso» com que fabricou os Mistérios de Lisboa e o Livro Negro. Os mentores do Romantismo português procuram uma posição independente, equilibrada, de certo modo «anti-romântica».
Rigorosamente, só depois de 1836, quando as feridas causadas pelas lutas entre miguelistas e liberais começam a cicatrizar, o Romantismo se constitui em Portugal, como escola com os seus adeptos menores, as suas revistas, o seu público. Até lá, assistimos a tentativas isoladas, prefiguram-se casos individuais de pioneiros: Garrett canta a Saudade, idealiza um Camões romanesco, joguete do Destino, abjura as ficções pagãs, inspira-se nos romances populares (Camões, 1825, D. Branca, 1826, Adozinda, 1828) e durante o cerco do porto, sob o estímulo do romance histórico de Hugo, delineia O Arco de Santana; Herculano, poeta em verdes anos, põe em versos austeros as fundas experiências do exílio e dos combates pela Liberdade, canta Deus e a Pátria (A Harpa do Crente, 1838).
O Romantismo português participa, está claro, das características do Romantismo europeu em geral; como sintetiza G. Díaz-Plaja, «à necessidade de seguir modelos clássicos, únicos, feitos de geometria e razão - universais, portanto -, opõe-se o direito de multiplicar os modelos segundo o clima e a época; de defender tantos cânones quantos os indivíduos, de preferir o típico ao arquetípico , o folclore ao gay saber, o pitoresco ao linear». O culto do diferente explica a literatura confessional, em que o eu liricamente se exibe na singularidade dos sentimentos e da imaginação, como explica ainda o nacionalismo estético, a valorização do que distingue uma cultura regional de todas as outras, logo o apreço do tradicional e do popular («Este é um século democrático - proclama Garrett -; tudo o que se fizer há-de ser pelo povo e com o povo»). E determina do mesmo passo o gosto de evocar a Idade Média (o distante no tempo, época de mais livre expansão dos impulsos, com o prestígio do ideal cavalheiresco) e o gosto exótico (o distante no espaço). Algumas vezes aflora, segundo a ideia de Rousseau, a ideia da bondade natural do indivíduo, pervertido e constrangido pela sociedade (nas Viagens de Garrett, por exemplo, e em Júlio Dinis); Camilo defende contra a sociedade os direitos dos que amam; mas a nota dominante é a do espiritualismo cristão, metafísica do pecado, da penitência e do resgate (Eurico, Fr. Luís de Sousa, Romance dum Homem Rico), de mistura com o fatalismo radicado na mente popular e na literatura. Na temática da poesia e da ficção, a par do amor platónico, aspiração à mulher-anjo, como a Dulce d' O Bobo, abundam os sentimentos fortes, carregados - ciúme, vingança, desespero -, a exigirem o estilo exclamativo, «frenético». Aliás, não faltam os contemplativos, os plangitivos lamartinianos, que procuram no seio da natureza os prazeres da melancolia e os pressentimentos dum além-mundo. O Romantismo constitui, por outro lado, uma tomada de consciência, a conquista dum senso histórico (Herculano e discípulos) e dum senso crítico novo aplicado aos fenómenos da cultura (Garrett, A. P. Lopes de Mendonça). Começa-se a relacionar o Homem com o meio a que pertence, a época de que é produto. O instável Carlos das Viagens é expoente duma época de crise, um moderno que sofre de duplicidade amorosa e acaba por se emburguesar, passando de alma sensível a barão; o próprio Camilo, conquanto mais interessado pelas almas que pelas realidades sociais, flagela com aguda visão tipos e costumes dum Portugal em metamorfose (por ex., em A Queda dum Anjo).
Entretanto podemos apontar alguns traços que dão fisionomia particular ao Romantismo português: estreitamente ligado à Revolução liberal de 1820, à emigração, à vitória sobre os miguelistas e à reforma das instituições, teve a chefiá-lo patriotas como Garrett e Herculano, que «mordiam o cartucho (no dizer de Camilo) com tanta seriedade de espírito como escreviam a Harpa do Crente ou O Arco de Santana», homens que entendiam a literatura como tarefa cívica, meio de acção pedagógica; cumpre notar que Portugal era um pequeno país decaído, humilhado, saudoso da grandeza perdida, e que portanto esses patriotas, confiantes nas virtudes da Liberdade, se propunham contribuir decisivamente para um renascimento pátrio; o espírito iluminístico, de racionalização da ordem social e difusão de «conhecimentos úteis», encontrou atmosfera propícia depois de 1820, e sobretudo depois da Revolução de Setembro (1836); aliás os mentores do Romantismo português revelaram-se homens de bom-senso, de alicerces clássicos, inimigos de excessos, sem propensão mística, sem alardes messiânicos, antes de pés fincados na terra; note-se que lutaram contra a desmesura e a trivialidade «ultra-românticas», que lamentaram a enxurrada de traduções de novelas francesas, factor de corrupção da língua vernácula e de dissolução da moral portuguesa antiga (isto apesar de um Garrett, um Camilo até, não hesitarem em actualizar a língua incorporando nela modos de dizer alienígenas).
Feito um balanço, teremos de assinalar um exagerado historicismo (sobretudo medievalismo, ingenuamente convencional no teatro e no solau), que por demais desviou a atenção da realidade contemporânea; abundante, monótona produção lírica, muito prejudicada pela afectação piegas e pela estética da espontaneidade, do coração «ao pé da boca» (espontaneidade que o autor das Folhas Caídas, homem de apurado gosto, habilmente simulou sem de facto a praticar); frouxa crítica literária, se a confrontarmos com a de outros países. Restaurou-se o teatro, chegando Garrett a escrever uma verdadeira obra-prima, o Frei Luís de Sousa, drama romântico imbuído do espírito helénico, de trágica simplicidade;